quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Aula Barthes

O Blog está desminliguido, por isso vou aproveitar e escrever algo para mim mesmo.


Homenagens aos antecessores.
Problemas enunciados: conflitos, cargo de poder.

Poder da língua e do discurso: toda

Falar, e com maior razão discorrer, não é comunicar, como se repete com
demasiada freqüência, é sujeitar: toda língua é uma reição generalizada
falar é subjugar o outro.

A estrutura da língua eu e tu.

fascista; pois o fascismo não
é impedir de dizer, é obrigar a dizer.

Prisao da língua, escapatória: literatura.

Mathesis, Mimesis, Semiosis.
Defesa da literatura.
A ciência é grosseira, a vida é sutil, e é para corrigir essa
distância que a literatura nos importa.


Que o real não seja representável — mas somente
demonstrável — pode ser dito de vários modos: quer o definamos, com Lacan, como
o impossível

tempo teimar e deslocar-se, isso tem a ver, em suma, com um
método de jogo.

Pode-se dizer que a terceira força da literatura, sua força
propriamente semiótica, consiste em jogar com os signos em vez de destruí-los, em
colocá-los numa maquinaria de linguagem cujos breques e travas de segurança
arrebentaram, em suma, em instituir [pág. 27] no próprio seio da linguagem servil
uma verdadeira heteronímia das coisas.


Semiologia é a descontrução da linguística.


quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O que é sublimação?


Lucas Nápoli
A entrada em cena das idéias de Jacques Lacan no palco da teoria psicanalítica foi de importância incomensurável no processo de refinamento conceitual do campo freudiano. A partir da extração feita pelo psicanalista francês da lógica subjacente a cada um dos mitos criados por Freud (como os do complexo de Édipo, complexo de castração e do pai da horda primeva) foi possível aos de fora enxergar a psicanálise não mais como um conjunto de fábulas reducionistas destinadas a explicar uma gama de fenômenos assaz complexos como a etiologia das neuroses, os sonhos, etc.
Por outro lado, Lacan e, principalmente, os lacanianos, prestaram um enorme desserviço à história da psicanálise no próprio ato de destilar a lógica das noções freudianas. Na tentativa de tornar mais palatável para lingüistas, filósofos, matemáticos e demais intelectuais uma teorização nascida da clínica neuropatológica e feita para os recém-nascidos psicólogos, Lacan e seus discípulos, ao mesmo tempo em que explicavam os paradoxos de Freud, injetaram uma dose exagerada de caráter hermético em suas elaborações.
Um exemplo paradigmático disso ocorreu com o conceito de sublimação. Até Freud não havia nenhuma dificuldade para definir tal conceito. Qualquer incauto que tivesse lido o texto “Pulsões e destinos da pulsão” (na tradição direta do alemão) ou “Os instintos e suas vicissitudes” (na tradução mais conhecida consagrada pela Standard Edition) sabia perfeitamente que a sublimação era uma das saídas possíveis que o sujeito encontra para lidar com a pulsão sexual, cuja peculiaridade seria o fato de utilizar a energia sexual (leia-se tesão) para a realização de atividades culturais como escrever, pintar, organizar um manifesto etc. Partindo da própria etimologia da palavra, podemos dizer que sublimar significa transformar a baixeza das paixões da carne em matéria-prima de coisas SUBLIMES.
Você mesmo, caro leitor, pode-se lembrar facilmente das vezes em que conscientemente sublimou! Quando na impossibilidade de deleitar-se sexualmente com a garota desejada, você se contentava em escrever-lhe cartas e mais cartas de um amor puro e sublime… Agora imagine que esse mesmo processo ocorra sem que você perceba. Imagine que aquela sua coleção de carros esportivos de brinquedo possa ser a forma que você encontrou para satisfazer uma fantasia sexual. Estranho, né? Pois é exatamente isso que Freud chamou de sublimação.
Até aí as coisas se passam de maneira perfeitamente inteligível com exceção dessa última estranheza sentida após a explicação freudiana. O que a elaboração lacaniana produz é justamente um apagamento da inteligibilidade com a contrapartida de eliminar também a estranheza. Podemos dizer, portanto, que Lacan erra nos meios mas acerta nos fins. Já veremos por que.
No seminário sobre a ética da psicanálise, o analista francês surpreende seus alunos com a seguinte afirmação: “Sublimar significa elevar um objeto à dignidade de Coisa”. É em torno dessa assertiva que minha explicação desse post girará pois, para compreendê-la, é preciso estabelecer preliminarmente os pressupostos que a fundamentam.
Em primeiro lugar, convém dizer que do ponto de vista freudiano, toda a nossa existência humana, apesar de composta por inúmeras atividades, possui como objetivo último a busca por um estado de completa satisfação. No entanto, como todos sabem – e não é preciso ler Freud para compreender isso – esse estado não passa de uma construção mítica, pois ele é naturalmente impossível visto que a vida é puro contraste. Uma hora a gente está triste, outra a gente está feliz e só sabemos que estamos felizes porque outrora estivemos tristes e vice-versa. Portanto, o estado completo de satisfação não passa de uma fantasia. Todavia, o aspecto curioso é que mesmo sabendo que é uma fantasia, constantemente tendemos a considerá-la como possível, por exemplo, quando ficamos apaixonados e achamos que a pessoa amada é a outra metade da laranja que vai nos fazer felizes para sempre. Mesmo que alguns leitores digam que não, no fundo, no fundo, é isso que todo mundo sente. Afinal, se todos imaginassem as agruras pelas quais passarão no decorrer do relacionamento, é provável que grande parte de nós permanecesse sozinhos para sempre. Então, já que tendemos a transpor a ilusão de uma satisfação completa para a realidade, é COMO SE em algum momento de nossa existência nós, de fato, já tivéssemos a experimentado e, após determinado tempo, tivéssemos sido separados do objeto que nos proporcionava tal satisfação. Mas vejam bem – e essa foi uma contribuição trazida pelo Lacan – tudo se passa no plano do COMO SE. Por isso não cabe dizer que esse momento de satisfação foi vivido no útero ou nas primeiras mamadas. Todas essas hipóteses são interpretações a posteriori. O mais justo é dizer que já nascemos marcados com a idéia de que um dia experimentamos um estado de completa satisfação que, não se sabe por que cargas d’água, foi perdida.
Lacan, na tentativa de substancializar, quer dizer, dar corpo a essa perda, a essa falta, a princípio (no referido seminário sobre a ética) apresentou a idéia de que no princípio havíamo-nos nos satisfeito com algo que ele chamou de Coisa (Das Ding em alemão), mas a consciência de que essa Coisa havia existido só existiria a partir do momento em que tivéssemos entrado em contato com a cultura que dizia que poderíamos nos satisfazer com determinados objetos e não com outros. Trocando em miúdos, eu só reconheço que um dia estive em contato com a Coisa, o objeto de satisfação, a partir do momento em que o acesso a esse objeto me é interditado.
Vejamos agora se é então possível compreender a definição lacaniana da sublimação. Para isso, vamos substituir o termo “Coisa” por “objeto de satisfação”. A frase, então, fica assim: “Sublimar é elevar um objeto à dignidade de um objeto de satisfação”. Mais fácil, não é? Mas ainda resta articular essa definição com o que Freud afirma sobre o conceito de sublimação e para isso teremos que atentar para as características que o pai da psicanálise enuncia para a pulsão.
Segundo Freud, nada na pulsão sexual é fixo a não ser o fato de que não importa com quem o sujeito se relaciona ou de que forma o faz, ele sempre visa à satisfação. Entretanto, como vimos, essa satisfação é sempre parcial pois a satisfação plena é impossível. Assim, é como se a pulsão nunca alcançasse a Coisa, o objeto de satisfação plena, mas tão-somente desse voltas em torno dele, o bordejasse. No plano psíquico, é como se, ao nos apaixonarmos, fantasisticamente pensássemos que nosso relacionamento com a pessoa amada constituísse o acesso à Coisa. Todavia, como esse acesso é impossível de fato, logo vem a decepção, pois nos damos conta de que tudo não passou de mais uma volta dada em torno da Coisa.
Com a sublimação, o que acontece é que, na fantasia, esse lugar da Coisa é preenchido por um objeto qualquer. É assim que a escrita passa a não constituir mais uma mera função expressiva, mas adquire, na economia psíquica do sujeito, um estatuto tal como uma válvula de escape para suas desilusões e fantasias. Ela se torna a mídia na qual ocorrerão as voltas em torno da Coisa. É assim também que os carrinhos da coleção são elevados da condição de meros objetos de metal à de objetos de satisfação, com os quais o sujeito perde horas e horas, organizando, admirando. É como se ao escrever, pintar ou organizar seus carrinhos, o sujeito por breves momentos fizesse de conta que estava ali, face a face com a Coisa…

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Introdução à Lógica - Curso na Unicamp

Me matriculei em Lógica pela filosofia da Unicamp, com a professora Ítala M. Loffredo. Daqui a três meses vejo se consigo transformar tudo num video de 10 minutos. Com animações ;)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Santayana: o tempo exausto

Sobre a impossibilidade de ser feliz. Obrigado Lucas, pelo texto!


link aqui

O tempo exausto
por Mauro Santayana


Paris, maio de 1968: última manifestação de rebeldia com presença de grandes intelectuais


A mesma espécie de sábios que decretou o fim da História, com o triunfo da globalização neoliberal, decretara antes o fim das ideologias. A ordem do raciocínio é a mesma: o capitalismo, premiando os audazes e persistentes, liquidaria as ideologias. Na realidade, eles pensavam em uma só ideologia, o que é correto, do ponto de vista lógico: o fim do pensamento de esquerda, com o domínio absoluto da ordem da direita, contra a “anarquia” libertária, acabaria com os lados ideológicos. Onde predomina o pensamento único – no caso, o neoliberal – as idéias se encontram castradas, mortas.



Mas a ideologia não é uma diversão da inteligência. Ela corresponde a interesses humanos bem claros e definidos. Os homens, mesmo quando submetidos ao sofrimento mais terrível, não deixam de aspirar à felicidade. O que difere é o conceito de felicidade de cada um. Para os lúcidos, a felicidade é altruísta. Assim a sentem, por exemplo, os patriotas, quando seu país cresce em prosperidade, e todos  vivem em paz e têm a mesma oportunidade de realização. Não pode haver segurança pessoal e o conforto que o trabalho permite, enquanto houver crianças famintas e adolescentes perdidos no turbilhão da miséria, das drogas e do crime. Em uma sociedade como a que nos cabe, ainda não podemos ser felizes, se possuirmos  sentimento de  pátria. A pátria não é referência geográfica, é uma reunião de seres humanos que falam a mesma língua e têm projetos comuns. Como resumiu Renan, a nação é o ato cotidiano de solidariedade. Os grandes interesses, que manipulam os meios de informação, para manter os povos submissos, inoculam os vírus da intolerância para com os diferentes, e pervertem as parcelas mais débeis dos povos, transformando-as em hordas de predadores e assassinos. Isso ocorre em todos os países do mundo, porque é inerente ao sistema mundial de domínio.


Submetidas à insânia construída e mantida pelo controle da indústria cultural, muitas pessoas só se sentem felizes no usufruto da desigualdade e da injustiça. São aquelas cuja fortuna só lhes serve para a soberba e a intolerância. Há muitos homens ricos que escapam dessa maldição.  Lembro-me de uma confidência que me fez, quando participávamos da Comissão Arinos, o industrial Antonio Ermírio de Moraes, cuja posição no grupo de estudos era de centro-esquerda: ele se sentia tranqüilo porque não fazia de sua fortuna uma ofensa a ninguém. Guardava os seus domingos para servir aos outros, na direção de um grande hospital, e não os usava para a ostentação e o hedonismo. Ele, como alguns outros empresários brasileiros, como foi José Alencar, são daqueles que se orgulham mais do número de empregos que criam, do que do conforto e do poder de que podem desfrutar. Mas há – e não só entre os ricos, mas também entre os pobres alienados  – aqueles que só se sentem felizes diante da infelicidade alheia. Só são ricos porque vivem em um mundo de pobres. A partir dessa simplificação, podemos concluir que há, sim, e continuará havendo, duas ideologias, direita e esquerda, com suas pequenas variantes no espectro doutrinário.


A extrema-direita só pode impor-se mediante a fraude e o terror. Ela sempre se valeu da combinação dos dois expedientes que, na perfeita síntese da Igreja Católica e da Reforma  dos tempos inquisitoriais, se fazia mediante o pavor do inferno, reproduzido no mundo com as torturas, os massacres mútuos de católicos e protestantes,  e a hipocrisia da caridade, a fim de  garantir a submissão dos oprimidos, com o uso alternado da piedade e da forca,  como resumiu um conservador lúcido, Bronislaw Geremek.


Como em todas as grandes mudanças históricas, aguarda-se a intervenção da inteligência, a fim de conduzir a revolução que as ruas anunciam, nos paises árabes, nas praças espanholas e nos bairros de Londres – não só os  “sujos” de imigrantes negros e morenos, como Tottenham, mas também em áreas centrais, como a de Oxford City.


A última manifestação de rebeldia que contou com a presença de grandes intelectuais foi a eclosão da juventude, em 1968. Os homens que deram o suporte de suas idéias ao movimento, como Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Max Horkheimer, Jean Paul Sartre, já não existem. Os pensadores de hoje parecem acomodados. Não aparentam dispor da chama interior próxima dos jovens que queriam  amar e expressar seu inconformismo com o mal-estar de um mundo unidimensional e injusto, como os que se rebelaram em Paris, em maio de 1968 – e, em seguida, no resto do Ocidente.


O tempo está exausto, mas é provável que se canse da própria exaustão, a fim de, tal como  em outras épocas, provocar  o fulgor da inteligência e dar a alguns homens não só  idéias fortes, mas também o poder de, com elas, convocar a consciência solidária e essencial dos homens, contra os novos bárbaros.

Clique aqui para ler a primeira parte do texto de Santayana: “Santayana analisa o quebra-quebra na Inglaterra”.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Dificuldades técnicas, rap e seis propostas para o próximo milênio

Aqui está meu primeiro vídeo. Tirando os problemas técnicos mencionados na parte 1, o youtube só aceita vídeos de 15 minutos, sendo que este ficou com "míseros" 18 minutos de duração total. Resolvi dividir em duas partes. Caso consiga, aprecie ;)

Parte 1


Parte 2


quinta-feira, 28 de julho de 2011

Paul Valéry, Vampyroteuthis Infernalis e o telejogo

Outro dia escrevi em um post no meu outro blog, que vou me encontrando com meu velho eu mesmo assim que meu HD (memórias) vai sendo acessado. E é meio assustador pensar desta maneira. Valéry me desperta muitas memórias de uma época bem específica da minha vida. Seu primeiro texto foi um marco para mim, porque eu não conseguia entender nada! E parecia que tinha tanta coisa ali, que acabei tomando por uma quase esquizofrenia em escrever textos acadêmicos e o mais objetivos possíveis, contra toda essa veia simbolista e sonhadora que fui descobrindo seu lugar aos poucos. Sob seu método cunhado de epistemologia construtivista, sua Introdução ao Método de Leonardo foi escrito em 1895, aos 23 anos de idade. Além da empatia causada por esta busca de uma escrita inovadora, Leonardo também havia sido meu herói das artes, naqueles primeiros contatos antigos, já quase apagados quando aquelas ilustrações atingiram meu olho, e meu cérebro, pela primeira vez. Há algumas coisas a serem faladas neste post, em como eu dei uma có´pia para meu pai sobre este livro, que ele misteriosamente engavetou e não quer tocar dar palavra quando toco no assunto; vou postar algumas referencias para falar mais tarde, inclusive meu texto O telejogo, redigido sobre forte influência do método.

em como há muita coisa deixada por ele (ver bibliografia na wiki), e sobre a lacunidade de traduções.
òtimo resumo:
http://almanaque.folha.uol.com.br/bosi7.htm


CAMPOS, Augusto de. Paul Valéry: A serpente e o pensar. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984.


“As obras do homem me parecem excrementos – resíduos de atos. Eu só as amo por imaginar os atos formadores”.“
http://poshumano.wordpress.com/2009/08/16/vilem-flusser-e-o-vampyroteuthis-infernalis/