quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O que é sublimação?


Lucas Nápoli
A entrada em cena das idéias de Jacques Lacan no palco da teoria psicanalítica foi de importância incomensurável no processo de refinamento conceitual do campo freudiano. A partir da extração feita pelo psicanalista francês da lógica subjacente a cada um dos mitos criados por Freud (como os do complexo de Édipo, complexo de castração e do pai da horda primeva) foi possível aos de fora enxergar a psicanálise não mais como um conjunto de fábulas reducionistas destinadas a explicar uma gama de fenômenos assaz complexos como a etiologia das neuroses, os sonhos, etc.
Por outro lado, Lacan e, principalmente, os lacanianos, prestaram um enorme desserviço à história da psicanálise no próprio ato de destilar a lógica das noções freudianas. Na tentativa de tornar mais palatável para lingüistas, filósofos, matemáticos e demais intelectuais uma teorização nascida da clínica neuropatológica e feita para os recém-nascidos psicólogos, Lacan e seus discípulos, ao mesmo tempo em que explicavam os paradoxos de Freud, injetaram uma dose exagerada de caráter hermético em suas elaborações.
Um exemplo paradigmático disso ocorreu com o conceito de sublimação. Até Freud não havia nenhuma dificuldade para definir tal conceito. Qualquer incauto que tivesse lido o texto “Pulsões e destinos da pulsão” (na tradição direta do alemão) ou “Os instintos e suas vicissitudes” (na tradução mais conhecida consagrada pela Standard Edition) sabia perfeitamente que a sublimação era uma das saídas possíveis que o sujeito encontra para lidar com a pulsão sexual, cuja peculiaridade seria o fato de utilizar a energia sexual (leia-se tesão) para a realização de atividades culturais como escrever, pintar, organizar um manifesto etc. Partindo da própria etimologia da palavra, podemos dizer que sublimar significa transformar a baixeza das paixões da carne em matéria-prima de coisas SUBLIMES.
Você mesmo, caro leitor, pode-se lembrar facilmente das vezes em que conscientemente sublimou! Quando na impossibilidade de deleitar-se sexualmente com a garota desejada, você se contentava em escrever-lhe cartas e mais cartas de um amor puro e sublime… Agora imagine que esse mesmo processo ocorra sem que você perceba. Imagine que aquela sua coleção de carros esportivos de brinquedo possa ser a forma que você encontrou para satisfazer uma fantasia sexual. Estranho, né? Pois é exatamente isso que Freud chamou de sublimação.
Até aí as coisas se passam de maneira perfeitamente inteligível com exceção dessa última estranheza sentida após a explicação freudiana. O que a elaboração lacaniana produz é justamente um apagamento da inteligibilidade com a contrapartida de eliminar também a estranheza. Podemos dizer, portanto, que Lacan erra nos meios mas acerta nos fins. Já veremos por que.
No seminário sobre a ética da psicanálise, o analista francês surpreende seus alunos com a seguinte afirmação: “Sublimar significa elevar um objeto à dignidade de Coisa”. É em torno dessa assertiva que minha explicação desse post girará pois, para compreendê-la, é preciso estabelecer preliminarmente os pressupostos que a fundamentam.
Em primeiro lugar, convém dizer que do ponto de vista freudiano, toda a nossa existência humana, apesar de composta por inúmeras atividades, possui como objetivo último a busca por um estado de completa satisfação. No entanto, como todos sabem – e não é preciso ler Freud para compreender isso – esse estado não passa de uma construção mítica, pois ele é naturalmente impossível visto que a vida é puro contraste. Uma hora a gente está triste, outra a gente está feliz e só sabemos que estamos felizes porque outrora estivemos tristes e vice-versa. Portanto, o estado completo de satisfação não passa de uma fantasia. Todavia, o aspecto curioso é que mesmo sabendo que é uma fantasia, constantemente tendemos a considerá-la como possível, por exemplo, quando ficamos apaixonados e achamos que a pessoa amada é a outra metade da laranja que vai nos fazer felizes para sempre. Mesmo que alguns leitores digam que não, no fundo, no fundo, é isso que todo mundo sente. Afinal, se todos imaginassem as agruras pelas quais passarão no decorrer do relacionamento, é provável que grande parte de nós permanecesse sozinhos para sempre. Então, já que tendemos a transpor a ilusão de uma satisfação completa para a realidade, é COMO SE em algum momento de nossa existência nós, de fato, já tivéssemos a experimentado e, após determinado tempo, tivéssemos sido separados do objeto que nos proporcionava tal satisfação. Mas vejam bem – e essa foi uma contribuição trazida pelo Lacan – tudo se passa no plano do COMO SE. Por isso não cabe dizer que esse momento de satisfação foi vivido no útero ou nas primeiras mamadas. Todas essas hipóteses são interpretações a posteriori. O mais justo é dizer que já nascemos marcados com a idéia de que um dia experimentamos um estado de completa satisfação que, não se sabe por que cargas d’água, foi perdida.
Lacan, na tentativa de substancializar, quer dizer, dar corpo a essa perda, a essa falta, a princípio (no referido seminário sobre a ética) apresentou a idéia de que no princípio havíamo-nos nos satisfeito com algo que ele chamou de Coisa (Das Ding em alemão), mas a consciência de que essa Coisa havia existido só existiria a partir do momento em que tivéssemos entrado em contato com a cultura que dizia que poderíamos nos satisfazer com determinados objetos e não com outros. Trocando em miúdos, eu só reconheço que um dia estive em contato com a Coisa, o objeto de satisfação, a partir do momento em que o acesso a esse objeto me é interditado.
Vejamos agora se é então possível compreender a definição lacaniana da sublimação. Para isso, vamos substituir o termo “Coisa” por “objeto de satisfação”. A frase, então, fica assim: “Sublimar é elevar um objeto à dignidade de um objeto de satisfação”. Mais fácil, não é? Mas ainda resta articular essa definição com o que Freud afirma sobre o conceito de sublimação e para isso teremos que atentar para as características que o pai da psicanálise enuncia para a pulsão.
Segundo Freud, nada na pulsão sexual é fixo a não ser o fato de que não importa com quem o sujeito se relaciona ou de que forma o faz, ele sempre visa à satisfação. Entretanto, como vimos, essa satisfação é sempre parcial pois a satisfação plena é impossível. Assim, é como se a pulsão nunca alcançasse a Coisa, o objeto de satisfação plena, mas tão-somente desse voltas em torno dele, o bordejasse. No plano psíquico, é como se, ao nos apaixonarmos, fantasisticamente pensássemos que nosso relacionamento com a pessoa amada constituísse o acesso à Coisa. Todavia, como esse acesso é impossível de fato, logo vem a decepção, pois nos damos conta de que tudo não passou de mais uma volta dada em torno da Coisa.
Com a sublimação, o que acontece é que, na fantasia, esse lugar da Coisa é preenchido por um objeto qualquer. É assim que a escrita passa a não constituir mais uma mera função expressiva, mas adquire, na economia psíquica do sujeito, um estatuto tal como uma válvula de escape para suas desilusões e fantasias. Ela se torna a mídia na qual ocorrerão as voltas em torno da Coisa. É assim também que os carrinhos da coleção são elevados da condição de meros objetos de metal à de objetos de satisfação, com os quais o sujeito perde horas e horas, organizando, admirando. É como se ao escrever, pintar ou organizar seus carrinhos, o sujeito por breves momentos fizesse de conta que estava ali, face a face com a Coisa…

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Introdução à Lógica - Curso na Unicamp

Me matriculei em Lógica pela filosofia da Unicamp, com a professora Ítala M. Loffredo. Daqui a três meses vejo se consigo transformar tudo num video de 10 minutos. Com animações ;)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Santayana: o tempo exausto

Sobre a impossibilidade de ser feliz. Obrigado Lucas, pelo texto!


link aqui

O tempo exausto
por Mauro Santayana


Paris, maio de 1968: última manifestação de rebeldia com presença de grandes intelectuais


A mesma espécie de sábios que decretou o fim da História, com o triunfo da globalização neoliberal, decretara antes o fim das ideologias. A ordem do raciocínio é a mesma: o capitalismo, premiando os audazes e persistentes, liquidaria as ideologias. Na realidade, eles pensavam em uma só ideologia, o que é correto, do ponto de vista lógico: o fim do pensamento de esquerda, com o domínio absoluto da ordem da direita, contra a “anarquia” libertária, acabaria com os lados ideológicos. Onde predomina o pensamento único – no caso, o neoliberal – as idéias se encontram castradas, mortas.



Mas a ideologia não é uma diversão da inteligência. Ela corresponde a interesses humanos bem claros e definidos. Os homens, mesmo quando submetidos ao sofrimento mais terrível, não deixam de aspirar à felicidade. O que difere é o conceito de felicidade de cada um. Para os lúcidos, a felicidade é altruísta. Assim a sentem, por exemplo, os patriotas, quando seu país cresce em prosperidade, e todos  vivem em paz e têm a mesma oportunidade de realização. Não pode haver segurança pessoal e o conforto que o trabalho permite, enquanto houver crianças famintas e adolescentes perdidos no turbilhão da miséria, das drogas e do crime. Em uma sociedade como a que nos cabe, ainda não podemos ser felizes, se possuirmos  sentimento de  pátria. A pátria não é referência geográfica, é uma reunião de seres humanos que falam a mesma língua e têm projetos comuns. Como resumiu Renan, a nação é o ato cotidiano de solidariedade. Os grandes interesses, que manipulam os meios de informação, para manter os povos submissos, inoculam os vírus da intolerância para com os diferentes, e pervertem as parcelas mais débeis dos povos, transformando-as em hordas de predadores e assassinos. Isso ocorre em todos os países do mundo, porque é inerente ao sistema mundial de domínio.


Submetidas à insânia construída e mantida pelo controle da indústria cultural, muitas pessoas só se sentem felizes no usufruto da desigualdade e da injustiça. São aquelas cuja fortuna só lhes serve para a soberba e a intolerância. Há muitos homens ricos que escapam dessa maldição.  Lembro-me de uma confidência que me fez, quando participávamos da Comissão Arinos, o industrial Antonio Ermírio de Moraes, cuja posição no grupo de estudos era de centro-esquerda: ele se sentia tranqüilo porque não fazia de sua fortuna uma ofensa a ninguém. Guardava os seus domingos para servir aos outros, na direção de um grande hospital, e não os usava para a ostentação e o hedonismo. Ele, como alguns outros empresários brasileiros, como foi José Alencar, são daqueles que se orgulham mais do número de empregos que criam, do que do conforto e do poder de que podem desfrutar. Mas há – e não só entre os ricos, mas também entre os pobres alienados  – aqueles que só se sentem felizes diante da infelicidade alheia. Só são ricos porque vivem em um mundo de pobres. A partir dessa simplificação, podemos concluir que há, sim, e continuará havendo, duas ideologias, direita e esquerda, com suas pequenas variantes no espectro doutrinário.


A extrema-direita só pode impor-se mediante a fraude e o terror. Ela sempre se valeu da combinação dos dois expedientes que, na perfeita síntese da Igreja Católica e da Reforma  dos tempos inquisitoriais, se fazia mediante o pavor do inferno, reproduzido no mundo com as torturas, os massacres mútuos de católicos e protestantes,  e a hipocrisia da caridade, a fim de  garantir a submissão dos oprimidos, com o uso alternado da piedade e da forca,  como resumiu um conservador lúcido, Bronislaw Geremek.


Como em todas as grandes mudanças históricas, aguarda-se a intervenção da inteligência, a fim de conduzir a revolução que as ruas anunciam, nos paises árabes, nas praças espanholas e nos bairros de Londres – não só os  “sujos” de imigrantes negros e morenos, como Tottenham, mas também em áreas centrais, como a de Oxford City.


A última manifestação de rebeldia que contou com a presença de grandes intelectuais foi a eclosão da juventude, em 1968. Os homens que deram o suporte de suas idéias ao movimento, como Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Max Horkheimer, Jean Paul Sartre, já não existem. Os pensadores de hoje parecem acomodados. Não aparentam dispor da chama interior próxima dos jovens que queriam  amar e expressar seu inconformismo com o mal-estar de um mundo unidimensional e injusto, como os que se rebelaram em Paris, em maio de 1968 – e, em seguida, no resto do Ocidente.


O tempo está exausto, mas é provável que se canse da própria exaustão, a fim de, tal como  em outras épocas, provocar  o fulgor da inteligência e dar a alguns homens não só  idéias fortes, mas também o poder de, com elas, convocar a consciência solidária e essencial dos homens, contra os novos bárbaros.

Clique aqui para ler a primeira parte do texto de Santayana: “Santayana analisa o quebra-quebra na Inglaterra”.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Dificuldades técnicas, rap e seis propostas para o próximo milênio

Aqui está meu primeiro vídeo. Tirando os problemas técnicos mencionados na parte 1, o youtube só aceita vídeos de 15 minutos, sendo que este ficou com "míseros" 18 minutos de duração total. Resolvi dividir em duas partes. Caso consiga, aprecie ;)

Parte 1


Parte 2


quinta-feira, 28 de julho de 2011

Paul Valéry, Vampyroteuthis Infernalis e o telejogo

Outro dia escrevi em um post no meu outro blog, que vou me encontrando com meu velho eu mesmo assim que meu HD (memórias) vai sendo acessado. E é meio assustador pensar desta maneira. Valéry me desperta muitas memórias de uma época bem específica da minha vida. Seu primeiro texto foi um marco para mim, porque eu não conseguia entender nada! E parecia que tinha tanta coisa ali, que acabei tomando por uma quase esquizofrenia em escrever textos acadêmicos e o mais objetivos possíveis, contra toda essa veia simbolista e sonhadora que fui descobrindo seu lugar aos poucos. Sob seu método cunhado de epistemologia construtivista, sua Introdução ao Método de Leonardo foi escrito em 1895, aos 23 anos de idade. Além da empatia causada por esta busca de uma escrita inovadora, Leonardo também havia sido meu herói das artes, naqueles primeiros contatos antigos, já quase apagados quando aquelas ilustrações atingiram meu olho, e meu cérebro, pela primeira vez. Há algumas coisas a serem faladas neste post, em como eu dei uma có´pia para meu pai sobre este livro, que ele misteriosamente engavetou e não quer tocar dar palavra quando toco no assunto; vou postar algumas referencias para falar mais tarde, inclusive meu texto O telejogo, redigido sobre forte influência do método.

em como há muita coisa deixada por ele (ver bibliografia na wiki), e sobre a lacunidade de traduções.
òtimo resumo:
http://almanaque.folha.uol.com.br/bosi7.htm


CAMPOS, Augusto de. Paul Valéry: A serpente e o pensar. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984.


“As obras do homem me parecem excrementos – resíduos de atos. Eu só as amo por imaginar os atos formadores”.“
http://poshumano.wordpress.com/2009/08/16/vilem-flusser-e-o-vampyroteuthis-infernalis/


Vlog - O segredo da mente milionária

O segundo livro que me referia no post anterior era este. E foi um desafio. Não em termos de dificuldade cognitiva, aliás, bem pelo contrário disto. Graças as dicas de um livro sobre leitura dinâmica que li há alguns anos atrás (KONSTANT, Tina. Teach Yourself Speed Reading - 2nd Edition, Ed. McGraw, 2003), consigo passar em visita na casa destas senhoras que têm livros espíritas na sala e terminar um destes retirado ao acaso do revisteiro em 15 minutos. O último foi Conversando com espíritos, que dava dicas de como conversar com os falecidos, sintonizando o rádio e tudo mais, que depois até farei, talvez, não sei, um review cínico, acabando por pensar que já tenho problemas demais neste plano para ficar tentando ajudar as coisas no outro. Pois bem, o mais difícil desta leitura do milionário foi vencer o status quo intectual. Passei por cima dele e foi uma leitura interessante, ótima para conversar na empresa e com aquela gente que quer ser introduzido a algo útil e interessante com vaselina. Postarei em duas linhas o que é essencial, depois tentarei postar o primeiro vídeo do blog!

EKER, T. Harv. Os segredos da mente milionária. Ed. Sextante.


Bem, resumindo, o livro é dividido em 4 partes. Vou escrever de cabeça, porque meu exemplar foi surrupiado no meio da noite por uma amiga, além de ser um exercício interessante para memória. Na primeira parte, que é uma introdução, o autor resume rapidamente em como ele era pobre e ficou rico, lindo e bem sucedido mudando sua concepção acerca do dinheiro. É.

Na segunda parte, ele explica como identificar seu modelo de dinheiro, porque ele define o quanto dele você terá. Aqui há trechos interessantes, com toda a parafernália de auto-ajuda mesclada com uma psicologia epidérmica. Exemplos seguem como o modelo que o que a gente ouve, a gente esquece, o que a gente vê, a gente lembra e o que a gente faz a gente aprende, seguindo para esta idéia do universo enquanto energia e toda uma defesa em dizer auto-afirmações (alguém atentou para aquele livro de David Icke, o maior segredo) porque isto altera todo o tempo-espaço e tudo mais, e então diga a cada 3 páginas do livro e todas as manhãs EU TENHO UMA MENTE MILIONÁRIA! Isto te mudará de uma maneira que você nem mesmo perceberá (sic)

Há o exemplo da própria esposa de Eker: quando pequena, ela sempre pedia uma moedinha para sua mãe quando ouvia o som do carro do sorvete na rua. Como aquele experimento comportamental de Skinner (do cão que passou a salivar após a associação da entrega do alimento com o acendimento de uma lâmpada), sua mãe sempre dizia para ela ir pedir ao seu pai. Resultado: ela, inconscientemente, associou o dinheiro ao homem, sendo que o que ela ganhava, desperdiçava, como um mecanismo de não merecer aquilo. Há exercícios para identificar seu modelo, mas basta pensar um pouco. Afinal, toda essa indústria de livros de auto-ajuda teria falido se as pessoas soubessem respirar e se olhar direito, o que o tio Sócrates já disse há mais de dois milênios atrás, com o conhece-te a ti mesmo!

Bem, na terceira parte, há 17 dicas e comparações de como os pobres e o ricos pensam, são os chamados Arquivos da riqueza. Vou colocar três exemplos para você ter uma idéia, você pode encontrar o resumo dos 17 no google, o livro integral pela internet afora ou mesmo pensar comprá-lo. 

Arquivo nº 1: As pessoas ricas acreditam na seguinte idéia:“Eu crio a minha própria vida.”As pessoas de mentalidade pobre acreditam na seguinte idéia: “Na minha vida, as coisas acontecem.”

Arquivo nº 5: As pessoas ricas focalizam oportunidades. As pessoas de mentalidade pobre focalizam obstáculos.

Arquivo nº 15: As pessoas ricas põem o seu dinheiro para dar duro para elas. As pessoas de mentalidade pobre dão duro pelo seu dinheiro.

Enfim, na quarta parte encontramos o fechamento. Eker diz para lermos o livro durante um ano, pelo menos uma vez por dia. Bem, para quem quer enriquecer mesmo sugiro que siga o arquivo nº 3 à risca, como se ele fosse seu Deus e senhor. Eu tenho mais um mundo de leitura a descobrir e outras preocupações em primeiro plano, por isso acho que vou ser pobre ;(  E tome cuidado com a proclamação em voz alta de que você tem uma mente milionária, ainda estamos no Brasil.

Postagem nº 2 - 2 livros, vlog, e mais alguma coisa

Andei de "férias" e levei na mala duas leituras quase antagônicas: A estrutura ausente de Humberto Eco e um livro que surrupiei de um amigo empresário, chamado Os segredos da mente milionária de T. Harv Eker. com o primeiro encontrei o de sempre, o que Wittgenstein pontua bem na introdução do Tractatus Logico-Philosophicus: que aqueles pontos colocados servirão melhor para quem já se debruçou sobre eles anteriormente. Relembrando toda minha incredulidade com os frequentadores destes cursos universitários (do qual eu mesmo fui obrigado a ser um deles) com semiólogos bricolando seus armazéns para preencher a indissoluta variável tempo-dinheiro investido em uma aula de fotografia. Crítica esta tão pontual que mereceu algumas linhas na introdução da estrutura, como se o que Eco chama de modesta revolução coopernica de pensar (pag. XVIII), dando novas nomenclaturas para objetos já postos, não discursasse também sobre encontrar empregos e nomes novos de matérias da grade curricular para também ocupar toda essa geração de professores que caiu nas graças de poder fornecer uma estética curiosa e genial, somada com todo aprendizado que puderam ter quando viajaram à Itália ano passado.

ECO, Humberto. A estrutura ausente. Ed. Perspectiva, 2001.


O motivo que me fez tirar o exemplar da estante foi a tentativa de formular meu antigo projeto estético novamente, que tem por contraponto rede e estrurura, com uma abordagem do funcionamento do cérebro humano. Tentando formalizar uma concepção de estrutura li em algum lugar li que Eco escreveu que para Lévi-Strauss, a verdadeira estrutura é o que possibilita a existência de estruturas. Bem, por um lado, a crítica de estetização textual em Lévi-Strauss cabe bem na obra do italiano (como a fórmula de logarítimos para dar aquele charme ao texto na página 13). Mas a obra pretende fornecer uma sistematização interessante para o fenômeno da comunicação e enfim da mensagem estética. Eco parte do exemplo simples de um sinal entre duas máquinas não conscientes, o que seria o grau zero do sinal interpretativo, se apoiando no modelo computacional de bit (menor unidade de disjunção probabilística) como modelo binário da troca básica de informação no mundo real. Neste ponto é interessante a maneira como ele coloca a entropia em termos probabilísticos (pag.14), porque a ordem não deixa ser também um sistema de probabilidades:

a entropia de um sistema é o estado de eqüiprobabilidade para qual tendem seus elementos

Não tenho a intenção de esmiuçar o texto do livro aqui, já que, como falarei a seguir, não pretendo que o resultado final do blog seja textual, já que escrever sobre literatura me pareceu repentinamente redundante, sendo que postarei em forma de vídeo, então talvez será um misto de texto com vídeo. Além do mais alguns pressupostos que Eco fornece não me parecem satisfatórios, como seu conceito de cultura (pag. 5), ainda colocando sua definição como conferida pela "antropologia cultural" (não sei se ele voltou ao texto original, a publicação é de 1968) como se não houvesse conflitos internos da própria área. Além destes pontos, pretendo encerrar a leitura exatamente na parte sobre a natureza da mensagem estética.

Início e proposta

São vários os motivos que me levaram a criar este blog aqui presente. A idéia básica me apareceu já há algum tempo, quando comprei um livro por acaso no ótimo sebo Galpão em Campinas. Entitulado TEATRO ALQUÍMICO - DIÁRIO DE LEITURAS, encontrei este livro com capa vermelha na genérica estante de crítica literária, travando algum contato inicial com Marco Lucchesi, homem das letras que segundo o G1 de março agora é novo membro da Academia Brasileira de Letras. A idéia do livro, em criar um diário guiado de leituras de autores e textos desconhecidos que valham a pena o público conhecer me pareceu justa por si só. Mas realmente acabei me surpreendendo com o conteúdo literário e de poesia que até o livro me serviu de ponte. Não pretendo aqui começar a pontuar o que de mais julgo interessante e importante neste livro de Lucchesi, como a poesia melancólica do italiano Giacomo Leopardi, mas julgo aqui começar com uma boa chave este processo que já iniciei há meses e que retorno somente agora. McLuhan disse em 1967 a célebre frase que o meio é a mensagem, e talvez por pensar em demasia neste aspecto intrínseco de forma e conteúdo, acabo levando certo tempo para modelar um formato limpo e que me caiba completamente para expor determinado conteúdo.


LUCCHESI, Marco. Teatro Alquímico - Diário de Leituras. Ed. Artium, 1999.

Com toda a franqueza digo ainda que houve este trabalho inicial em modelar um formato interessante para este trabalho de leituras e comentários, uma espécie de um fichamento das obras lidas, tentando tornar isso mais útil e menos limitado, mas que a forma final ainda é um work in progress. Ainda não sei qual a fórmula geral, o padrão que utilizarei, e tenho certeza que isto avançará dentro em breve, em meses. Ainda não sei se será utilizarei uma receita mais acadêmica ou mais internetesca; se começarei com um texto mais livre ou com mais citações; se precisarei criar um modelo de cruzamento e busca entre textos diferentes ou se este blog suprirá as demandas do modelo organizacional que pretendo desenvolver e utilizar para a demanda do modelo final que vou precisar.
Exponho aqui meus objetivos para o trabalho que aqui será colocado. Estes pontos servirão mais de baliza para minha memória, sendo bom revê-los em um futuro breve:

  • Criar uma plataforma ótima para extender minha memória em pontos nevrálgicos de livros e textos; 
  • Esperar que este trabalho tenha utilidade pública, ajudando outras pessoas a descobrirem boas leituras e questões; 
  • Simplificar o máximo o conteúdo e forma porque o tempo é curto para todos; 
  • Tentar publicar textos, matrizes e fontes para acesso direto do leitor junto ao objeto citado;
  • Facilitar o redirecionamento do conteúdo para redes sociais;
  • Liberdade para comentários e sugestões dos visitantes, desde que seja feito de maneira respeitosa e construtiva;